Vida de Pedro & Carolina

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sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Uma alma simples, um liquidificador de emoções e um fuxico colorido

Eu tenho uma enorme admiração pelas pessoas de alma simples.
Como aquelas mulheres que moram em uma casa de campo verde e aconchegante, dessas com jeito de conto de fadas onde o tempo parece que caminha em outra rota, o sol desmaia no céu sossegado e largo a cada fim do dia e onde é possível escutar o silêncio do mundo como uma doce melodia.
Na minha imaginação essas mulheres também acordam com o canto dos pássaros e já estão piscando os olhos de tanto sono quando as primeiras estrelas no céu apontam.
Mente tranquila, idéias calmas, tudo entendem, pouco questionam e vivem muito bem por anos e anos sem cutucar as suas gavetas interiores.
Eu não.
A minha alma não tem nada de sossegada, quero muito mais de tudo, quero morder a vida, quero nunca parar de sonhar, quero que a poesia nunca me abandone, quero ir sempre além.
Apesar de eu ser viciada em encontrar felicidade nas coisas simples do meu dia-a-dia e acreditar que é na rotina que acontecem os melhores milagres, não abandono a mania de querer mais de mim. Como diria a minha poeta querida, eu quero sempre mais do que vem nos milagres.
Se é defeito ou qualidade realmente não sei responder.
Outro dia fui em um homeopata que tem o maior jeito-cabeça de terapeuta. Ele é daquele tipo de gente que tem um olhar de mago, que quando conversa diz palavras que brilham feito estrelas dentro do nosso coração. Durante algumas passagens da minha vida já bati naquela porta querendo mudar a minha alma de lugar, como no verso do Quintana, só que me sentindo bem menos azul e poética que o poema.
Na beleza dos meus 32 anos fui lá porque estava cheia como uma árvore bem bonita, forte, resistente, repleta de raízes e histórias, com direito a belos frutos e muitas flores. Mas pesada demais, querendo abraçar todas as florestas, rios e mares com a toda força da minha natureza. Traduzindo ao pé da letra: estava me sentindo mesmo era exausta!
A culpa é dessa tal síndrome da mulher-maravilha que nos assalta a mente diariamente e nos transforma em um liquidificador acelerado de funções, pensamentos, vontades e sentimentos.
Velocidade um: pula da cama, faz a mamadeira, prepara a merendeira, arruma os brinquedos, faz o suco, bota a mesa, dá colo, cadê aquela blusinha listrada que estava em cima da cômoda ontem à noite?
Velocidade dois: segura a mão, atravessa a rua, amarra o sapato, penteia o cabelo, lê a agenda, prepara o almoço, brinca junto, namora, hora do banho, cata brinquedo, faz bolo, inventa história, escreve poesia, preciso urgente fazer a minha unha!
Velocidade três: necessidade de dividir o dia em mil pedacinhos, agarrar o tempo para ver se ele estica, arruma a bagunça, tira a manchinha de tinta verde do uniforme, conversa, lanche, desenho, desce para jogar bola, convence a ir para a escola, reza, dorme... preciso de mais energia já!
Mulher já nasce com mania de ser carpinteira do universo, como já disse Raul Seixas em uma música que adoro.
São tantas coisas que queremos fazer ao mesmo tempo, são tantos sonhos que dançam dentro da gente fazendo fila para serem realizados o mais rápido possível e o relógio vai se movimentando, girando, rodando para lá e para cá em um ritmo acelerado como se o mundo fosse acabar amanhã.
E assim muitas vezes abro a porta dos meus devaneios e fico a pensar que seria muito mais fácil ser uma mulher com a alma simples, com pequenos pedidos, com vontades tranquilas e com mais realidade e menos poesia no coração também.
( O que fazer se eu não vivo sem poesia?)
Enquanto não me mudo para um canto verde desses por aí vou vivendo no auge da minha antiga modernidade, acreditando que a felicidade é sempre o melhor lugar para morar.
Irei continuar cheia de coloridos desejos, colhendo tudo de bom que passar pela minha frente e tendo cada vez mais certeza que adoro me multiplicar porque essa é a minha essência.
Quem sabe agora que descobri a paixão pela arte de fazer fuxico, aquela arte que se faz com retalho e agulha, não me sinto simples toda vida?
* essa crônica foi escrita por mim há mais ou menos três anos atrás, na época eu tinha 32 anos e hoje tenho quase 35 anos. Mas ainda a adoro e consigo me identificar bastante com tudo o que passava pela minha mente naquele tempo.
Quando a escrevi as crianças eram bem menores e a minha pequena Carolina ainda nem estava na escola.
Como eu acho que nunca a postei por aqui, me deu muita vontade de compartilhar com os meus queridos leitores.

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